Numa estratégia de guerra por vezes é melhor recuar para mais a frente obter de modo mais eficaz o tento. Mas… Até pelo contexto da história o fato em si pode é alimentar uma das causas em vez de trazer uma solução. E como tem dinheiro público envolvido também é um caso a se pensar. Se bem que foram principalmente as falhas do que os meios que gerou a polêmica, e com reações em dois extremos: os do contra e os favoráveis.
Se a princípio a minha visão, ou melhor, a minha posição fica como um “nem tanto ao mar, nem tanto ao céu” é porque sou flexível aos incentivos à leitura. Principalmente para crianças e adolescentes. Pois mesmo que trôpegos de algum jeito facilitam o acesso à leitura de bons livros. Que por sua vez dará a eles uma boa base para o futuro até no campo profissional.
Ainda sem entrar no mérito da questão há um outro porém. O de que se há na atualidade um vilão nessa história: seria o bate-papo via celular pelos jovens. Que sem estar discriminando: a preços bem módicos. Dando a muitos adolescentes das classes mais baixas esse tipo de acesso e por um custo mínimo de R$ 10,00. Mesmo estando próximos, mesmo distantes um do outro, mesmo sozinho na solidão de um quarto… essa troca de impressões mesmo que por futilidades acaba por tornar difícil trocar a internet pela leitura de um livro. Logo, algo tem que se feito. Isto posto, o gerador da polêmica:
O tal projeto: “Ele veio com a intenção de “simplificar” o texto de alguns Clássicos da Literatura Brasileira afim de atrair mais e até novos leitores. Já com a verba da Lei Rouanet. Serão distribuídos nas escolas pelo Instituto Brasil Leitor. Tendo a frente a escritora Patricia Secco.” (Que eu não a conhecia. Pelo menos com a polêmica ela ficou conhecida de norte a sul.)
Sou contrária em nivelar por baixo principalmente em relação a Educação nas Escolas Públicas, mais ainda nas de Ensino Fundamental e Médio. Não se deve entregar tudo mastigadinho. Um dos papéis do Professor em Sala de Aula seria em incentivar o uso do raciocínio. Estaria em despertar a curiosidade para um conhecimento muito mais abrangente.
Agora, no tocante à leitura de um livro creio que o principal obstáculo seria o preço do livro. Que sem penalizar as Editoras de médio e pequeno porte, as de grande porte após algumas – ou muitas – edições poderiam publicar algumas tiragens em papel mais barato, sem cores e tudo mais que encareceriam o livro, e colocando à venda em bancas de jornais num preço muito bem acessíveis a todos. Isso já aconteceu em décadas passadas no Rio de Janeiro. E o que mais se via era gente lendo livros nos ônibus. Foi a época em que eu mais comprei livros, os quais doei todos até porque pela qualidade do papel eles não teriam vida longa. Inclusive, entre eles haviam grandes Clássicos da Literatura Universal. Um deles foi “Cem Anos de Solidão“, de Gabriel Garcia Marques, que eu li nessa época.
Acontece que para o público infantojuvenil o apelo maior é a trama do livro, como também do visual. Ainda mais se não trazem em si o gosto pela leitura. Daí as ideias de incentivar à leitura merecem alguma consideração. Até em como fazer isso numa escala maior, a nível nacional. E não é algo tão difícil. Gincanas, Fóruns, Concursos… Que os levariam a ler, a interpretar, a interagir… Sem grandes custos, até pelos cofres públicos.
Mas não foi o que fez esse projeto. Além de usarem verbas públicas… verba essa já liberada pelo MinC em 2009, para uma tiragem inicial de 600 mil exemplares para os dois primeiros livros… o projeto fez foi “adulterações” em cima de “O Alienista”, de Machado de Assis, e de “A Pata da Gazela”, de José de Alencar. Isso que gerou a polêmica.
Se a intenção propagada seria fazer uma “apresentação” dessas obras aos jovens, poderiam começar com outros mais recentes. Ou por aqueles cujas histórias estão mais de acordo com o momento atual, com a faixa etária desses jovens… Há muitas histórias atemporais que fariam essa ponte. Agora, é o Professor quem mais tem como saber qual obra de determinado autor que mais estaria de acordo com seus próprios alunos.
Se a intenção propagada seria para dentro das Salas de Aulas, poderiam publicar versões condensadas desses livros. Muito mais viável do que ir página por página, trechos por trechos, frases por frases e ir trocando por “sinônimos” atuais. Além de correrem o risco de dar um significado diferente ao contexto da obra, e foi o que ocorreu, irá inibir o leitor em procurar ler o original. Até porque em época de concursos, de vestibulares… ficamos com uma lista de livros a serem lidos num determinado espaço de tempo. Onde o jeito é apelar para as versões condensadas. Foi o que eu fiz: li muitos assim e que depois com mais tempo li os originais. Confessando aqui que “O Guarani”, de José de Alencar, eu achei chato na versão condensada, e me emocionei muito ao ler o livro no original.
E mesmo como propagou a própria autora do projeto, a Patrícia Secco, de que seria para os de poucas instruções, melhor seria fazer cartilhas comentando as tais obras literárias. De maneira a seduzi-los para lerem o original
Bem, eu fiquei ciente dessa história por um amigo no Facebook que colocou um link de uma petição online contrária a esse projeto. Desconhecendo a polêmica, com tanto o que ler sobre o assunto… no primeiro momento eu disse que não assinaria. Focando mesmo na intenção que parecia ter o projeto e por estar aberta aos incentivos à leitura de livros. Também porque queria ouvir o outro lado da questão: o da autora do projeto, a Patricia Secco. Tendo essa oportunidade assistindo a entrevista que ela deu no Globo News Literatura. De onde então obtive base para mudar de opinião. Assinei a tal Petição para que o MinC não libere mais verbas para os demais livros. Ela até pode continuar com esse projeto de nivelar por baixo a cultura do país, mas desde que não seja com dinheiro público.
Vale deixar esse registro do programa do Edney Silvestre que me leva a continuar a incentivar à leitura de livros. O resultado de uma pesquisa nacional mostrando que nos últimos seis meses 60% dos brasileiros não leram um único livro sequer.
É um tema e tanto, sem dúvida. Tentador isso de atrair mais gente pra ler e tal. A vista do meu ponto é a seguinte: simplificar como meio de atração é… simplista. Ninguém simplificou os smartsphones e eles são um sucesso, ainda que exijam um processo relativamente complexo de aprendizagem e uso. Gostar de ler é exercício, precisa ser incentivado, boas companhas publicitárias, um esforço que depois de feito vai fazer um estrago e tanto, assim, no bom sentido.
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Pois é! Ideias não faltam. Até pela internet tem um evento e de alcance internacional, o Bookcrossing.
Sou favorável a esse estrago que sugeriu 🙂
E ainda intimidada com um smartphone. Mas tentada a ter um ainda esse ano.
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Eu também acho essa estratégia simplista e não concordo com ela. Quanto ao custo dos livros, há obras em domínio público e sites como o http://www.lelivros.com, que disponibilizam gratuitamente um acervo fantástico para a leitura. Acho triste que a educação brasileira esteja querendo utilizar mais meios para tentar encobrir seus buracos.
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Uau! Fernanda, grata pelo link! Amei! E irei divulgar 🙂
E por aí você vê que em vez de “simplificar” obras já consagradas, poderiam usar o dinheiro público para imprimir e distribuir os livros de graça. Garanto que uma grande parcela iria ler.
Ah! Fique a vontade para dar seu ponto de vista sobre esse fato em seu blog. Quantos mais ficarem cientes mais incentivos à leitura teremos.
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Que bom que você gostou do site Le Livros! Já baixei centenas de obras!
Obrigada e beijos para você.
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